sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Moral de deus.....

domingo.
27/04/2014 6:18

A Moral depende de Deus?

Muita gente pensa que a moral depende da religião e que, sem Deus, não se pode ter uma moralidade objetiva e universal. Bom equivaleria ao que é aprovado por Deus: Deus seria o criador do certo e errado, bom e mau. Porém, se Deus, que é perfeitamente bom, aprova uma ação, deve ser então que ela é uma boa ação, que há razões para que Deus a aprove (há algo nela que a torna boa). Sem isso, a aprovação seria totalmente arbitrária, e não poderíamos mais chamar Deus de bom, pois “Deus é bom” seria equivalente a “Deus aprova Deus”.
Esta ideia pode ser visualizada em duas interpretações da tese de que Deus ama o que é correto e bom: uma que afirma que as coisas boas são boas porque são aprovadas por Deus (que se pode chamar de voluntarismo) e outra que afirma que Deus aprova as coisas boas e corretas porque elas são boas e corretas (que se pode chamar de princípialismo).
O argumento seria mais ou menos o seguinte: (1). Ou Deus aprova o que é certo porque há razões objetivas para tanto, ou Deus aprova o que é certo arbitrariamente. (2). Se Deus aprova arbitrariamente, não podemos mais chamá-lo de bom, pois isto implicaria dizer somente que Deus aprova a Si próprio (Deus aprova a Deus), e que Ele produz o que é certo arbitrariamente. (3). Ora, Deus é bom e aprova o que é certo e bom segundo razões objetivas (segundo princípios). (4). Logo, Deus aprova o que é certo porque há razões para tanto. (5). Logo, a moral é objetiva (há razões para que uma ação seja certa ou errada), e não é derivada do comando arbitrário de Deus, nem necessita Dele para ser objetiva.
Um problema desta interpretação principialista é que parece implicar que Deus está submetido a padrões morais objetivos e não pode, para manter-se bom, transgredi-los, o que para alguns, afeta a onipotência divina. Esse não é o caso, porém, pois a onipotência divina não é a capacidade para fazer tudo que se queira, mas, sim, para fazer tudo o que é possível. Deus não pode criar uma pedra tão pesada que Ele não possa carregá-la, como não pode tornar 2 + 2 = 5 verdadeiro, nem cometer suicídio. São impossibilidades lógicas, e Deus, caso exista, não pode ser ilógico. Se Deus é onipotente neste segundo sentido, então não procede que a interpretação principialista diminua o poder de Deus.
O teísta pode discordar da premissa 2 e tentar justificar a arbitrariedade de Deus dizendo que Ele sempre escolherá o que é bom, mas, se disser isso, estará implicitamente reconhecendo que a bondade existe independentemente da aprovação de Deus, que tem a sensibilidade para reconhecer o bem. A maneira mais consistente de fazer isso é concordar com a premissa 2 e rejeitar a teoria voluntarista. Essa é a posição mais comum entre filósofos teístas e entre teólogos: não é o fato de Deus ordenar uma ação que torna boa e correta tal ação, mas antes, é em razão da ação ser boa por si mesma e por suas características, que Deus a ordena.
O que é moralmente bom é algo objetivo e independe da ordem divina. Tanto os que acreditam em Deus quanto os que não acreditam podem aceitar a tese de que há padrões morais normativamente verdadeiros, que não dependem da opinião social ou individual. Porém, mesmo que a moral não seja dependente da ordem divina, ela ainda poderia ser conhecida através da revelação divina e ela poderia ganhar força motivacional pela recompensa ou castigo que Deus dará a cada um. Mas isso fica para outro artigo.
Prof. Alcino Eduardo Bonella – Instituto de Filosofia da UFU.
http://www.correiodeuberlandia.com.br/pontodevista/2014/04/27/a-moral-depende-de-deus/

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